Raquel era uma mulher estranha. Essa era a única verdade que alguém poderia dizer a seu respeito. Nasceu de maneira atípica, com dez meses de útero, como se fosse de nova espécie. Nasceu gostando de ficar. Saindo, chorou mais do que todas as outras crianças a saudade da barriga. O útero foi o único lugar que ela realmente conheceu.
Sua mãe era de natureza tranquila e distraída, levemente relapsa, criando o ambiente propício para uma criança aprender. Nunca ninguém soube quem era seu pai. Foi nesse ambiente que Raquel aprendeu a questionar. Desde muito nova. Nenhum ser adulto estava lá para guiá-la. Nasceu no meio de um amor livre de regras, como nenhum amor de mãe. Era mais como uma afeição como as que se tem por filhotes em geral, nada de instinto materno, nada de luta pela prole. Nenhuma projeção, nenhuma intenção de responder a nada, de reproduzir um mundo, de corresponder a algum ideal. Sua mãe existindo na inércia permitiu que Raquel ascendesse em excelência...
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