sexta-feira, 30 de abril de 2010

Compass

Compass - o disco novo do Jamie Lidell. Eu gostei. Muito bom. ele vai indo, vai indo e foi!!



quarta-feira, 28 de abril de 2010

eu vou pro bar, e vc?

aos amantes do bar ruim, do bar sujo, do boteco da esquina!
;)

Bar ruim é lindo, bicho!
De Antônio Prata

Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins. Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de cento e cinqüenta anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de cento e cinqüenta anos, mas tudo bem).

No bar ruim que ando freqüentando ultimamente o proletariado atende por Betão – é o garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas, acreditando resolver aí quinhentos anos de história.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar “amigos” do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura.

– Ô Betão, traz mais uma pra a gente – eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte dessa coisa linda que é o Brasil.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte dessa coisa linda que é o Brasil, por isso vamos a bares ruins, que têm mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gâteau e não tem frango à passarinho ou carne-de-sol com macaxeira, que são os pratos tradicionais da nossa cozinha. Se bem que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gâteau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, gostamos do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil. Assim como não é qualquer bar ruim. Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne-de-sol, uma lágrima imediatamente desponta em nossos olhos, meio de canto, meio escondida. Quando um de nós, meio intelectual, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectuais, meio de esquerda, freqüenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim.

O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e, um belo dia, a gente chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e, principalmente, universitárias mais ou menos gostosas. Aí a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó. Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV. Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevette e chinelo Rider. Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico. E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo.

Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem. Os que entendem percebem qual é a nossa, mantêm o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam cinqüenta por cento o preço de tudo. (Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato). Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae. Aí eles se dão mal, porque a gente odeia isso, a gente gosta, como já disse algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão Brasil, tão raiz.

Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda em nosso país. A cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que a gente gosta, os pobres estão todos de chinelos Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e a difundir o petit gâteau pelos quatro cantos do globo. Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda que, como eu, por questões ideológicas, preferem frango à passarinho e carne-de-sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca, mas é como se diz lá no Nordeste, e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o Nordeste é muito mais autêntico que o Sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é bem mais assim Câmara Cascudo, saca?).

– Ô Betão, vê uma cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?

terça-feira, 27 de abril de 2010

Uma história familiar

Já que eu não tenho nada melhor pra fazer, vou contar uma história. Meus pais se mudaram. Depois de alguns anos com a casa à venda, eles conseguiram. Vendaram a casa e foram morar em Florianópolis. Faz só uma semana que estão lá. Antes de começar a historia propriamente dita, é necessário saber quem são os protagonistas, senão perde a graça.

O meu pai é aquele cara certinho, organizado e metódico. Os livros estão sempre arrumados e as gavetas impecáveis. Todos os documentos estão devidamente guardados e, assim, tudo é encontrado rapidamente. Meu pai é o cara que me deu, certo dia, um guia de organização chamado 5S (senso de ordenação, de utilização, de limpeza, de saúde, de autodisciplina) porque ele não conseguia entender como eu vivia na minha bagunça. Meu pai já não entra mais no meu carro a não ser que ele não tenha outra opção porque o meu carro vive sujo (eu sou uma bióloga que vai pro campo com o carro e, entre muito pó e terra, eu também transporto pedaços de árvores e, no mínimo, algumas aranhas e formigas).

Meu pai é o cara que tem horário pra comer, horário pra dormir, horário pra ir caminhar e assim por diante. É o cara com a rotina infalível. Todo dia ele bate no liquidificador uma vitamina de mamão, maça e leite. Há anos é a mesma vitamina. Ocasionalmente uma beterraba, uma cenoura ou uma pêra. Ocasionalmente. Há anos, também, ele levanta às 6 da manhã. Isso só muda quando ele vai à praia, onde ele dorme até às 8 quando porque está no nível do mar! Mas ele também é um cara engraçado. É o cara que, nesses feriados que estamos na praia com uma galera, faz o café para os remanscentes da balada, já que ele é o primeiro a acordar e desce cedo já de banho tomado e cabelo arrumado! É um cara que faz um número enorme de piadas infames. É um cara que gosta de tranqüilidade, sossego e paz. É, também, um dos caras mais generosos que eu conheço.

A minha mãe é quase o oposto disso tudo. Ela até gosta de ordem, mas é aquela onde a bagunça e a preguiça estão juntas. A minha mãe é filha de nordestina e, sendo assim, ela é uma generala. Mas ela é uma pessoa tranqüila, sem grandes preocupações, que gosta de liberdade e criou as filhas dessa maneira. Ela também é uma pessoa que gosta muito de gente. Ela gosta da casa cheia. Ela gosta de cozinhar para toda essa gente. Ela adora qualquer desculpa para reunir as pessoas que ela gosta e beber e comer e beber e comer. Ela é uma agregadora e agrega mesmo todos em volta dela. Ela gosta muito de ler, sendo o gênero favorito os livros que temos que advinhar quem matou quem e porquê. Ela também gosta de relaxar na frente da TV e assistir todos os seriados de cunho policial que a Universal e a Warner transmitem – de Criminal Minds à Monk, de CSI à Law and Order.

Pois bem, a mudança. Para começar eles tiveram que se desfazer de trocentas coisas porque não tinha espaço para levar tudo. Não fica muito difícil imaginar que o meu pai arrumou todas as coisas dele em uma semana. Primeiro porque ele tem pouca coisa, segundo porque, tirando certos cômodos da casa, no resto quem manda é ela. Livros vendidos no sebo, roupas no brechó, caixas para mandar para as filhas que moram em São Paulo, outras para terceira filha que vai ficar e pronto, foram. Eles, as duas cachorras e a gata para a ilha da magia. O carreto deles chegava no dia seguinte.

Uns três dias depois eu liguei e falei com a minha mãe. Foi um relato breve, até. Ela me disse que estava chovendo muito e, por isso, ainda não tinham conseguido instalar a NET. Disse que as cachorras estavam perdidas e, já que estava chovendo, elas não podiam sair e o chão da casa é branco e elas soltam muito pelo. Falou que as caixas ainda estavam espalhadas e que ela estava exausta, mas que estava tudo bem. Sempre está.

Hoje falei com o meu pai. Minha filha, você não tem idéia. Choveu a semana toda e a chuva furou, ou o furo já existia, e a caixa d’água começou a vazar. Inundou tudo lá em cima. Duas bacias para recolher a água das goteiras e toalhas no chão da escada. Aí eu chamei o Vanderlei (explico: ele é o faz tudo super eficiente que ajuda por ali) para ver. Subiu, mexeu e não achava lhufas. Até eu subi pra ajudá-lo. Subi lá no alto onde coloca a bandeirinha, veja. Bom, depois de horas achamos o furo. Ele consertou e garantiu que, até ele morrer, não vaza mais!

Nossa, e a NET? Você não imagina o drama que foi. No começo a Net não podia ser instalada porque não parava de chover. Hoje fez sol e os exímios funcionários da NET vieram aqui. Só conseguimos instalar porque o Vanderlei estava aqui. Ah, é... porque? Não achávamos a caixa da onde deve sair o sinal para puxar para os pontos. Eles tem um aparelhinho que vai procurando a tal caixa. Primeiro eles acharam que estava na frente do quarto lá de fora e quebramos o piso, mas não tinha nada lá. Era o cano central. Quase estouramos o cano! Depois o aparelho apitou num pedaço do quintal ao lado da piscina e o Vanderlei foi lá com a picareta e abriu dois buracos na grama. Achamos a caixa, enfim. Estava enterrada um metro pra baixo, imagina. Aí, como se não bastasse, para puxar o fio para o ponto lá do quarto, tivemos que ir por cima do telhado, furar a laje e depois ainda furar o armário dentro do quarto. Você não tem idéia do transtorno. Ufa!

Caramba...e de resto, pai? Bom, as caixas ainda estão por aqui, né. As caixas mudam de lugar todo dia, mas não somem. Não há um lugar arrumado nesta casa, não há. Puts, pai... você deve estar sofrendo! Você não imagina o quanto! Aí, os outros problemas, aqueles que eu ainda não identifiquei, estão bem. Tudo bem. Mas agora, só alegria! A Mãe já vai poder ver o "CSI"...

E você, filha, como está? .......

update

Foi na época em que o cigarro era mais que aceito, era glamour. Foi antes da Marlboro seguir rumo ao oeste e iniciar a pandemia dos cowboys americanos fumantes. Foi na década de 50.
Bebês travessos que aconselham as mamães a fumar (já que acalma) antes da bronca...



Hoje, que quase não se pode fumar nas calçadas e varandas, eu acho muito estranho combinar bebês e cigarros...

Biblioteca Digital

“Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe - que faz a palma,
É chuva - que faz o mar”.

Castro Alves, 1870

A Brasiliana é uma biblioteca digital que permite o acesso de uma coleção de livros e documentos brasileiros. É possível baixar, em pdf, toda a poesia de Vinicius de Moraes, a obra de Machado de Assis, Castro Alves, Augusto dos Anjos e outros. Vale a pena usar e abusar!


segunda-feira, 26 de abril de 2010

sustenido

Stereomood é uma rádio online onde você escolhe o canal que quer ouvir de acordo com seu estado de espírito. Afinal, existem dias e dias, músicas e músicas, e a trilha certa faz toda diferença!


behind every song there's always an emotion. we don't know why but maybe that's why we love music.

sábado, 24 de abril de 2010

music philosophy

match point



Ele rebate a bola. Ele erra, ele acerta. Ela cai dentro da quadra, ela cai fora. Ela é rebatida. Ela vai pro quadrante que você não esperava. Ponto pro adversário e assim por diante.
Se a gente sempre soubesse pra onde vai a bolinha, anteciparia tudo. Perderia a graça, sim, mas seria sem susto e com possível vantagem no final. Ficaria previsível, mas acabaria com a ansiedade que corrói. Ah, se a gente soubesse o que esperar da bolinha...

Ao ouvir o sinal, favor deixe sua mensagem!

shuffle



Um dos meus achados do ano passado foram os Boombop shuffles! São podcasts feitos de tempos em tempos pela Babee com músicas boas e, normalmente, de bandas desconhecidas. ouça-os, eu recomendo.

a ilustração é daqui.

daime



muito curta. muito.

The XX

se você ainda não conhece, conheça.
se já, então enjoy..!!!







All my friends

Eu adoro essa música. escolha aí: LCD ou Franz!
(o vídeo oficial do LCD não deu pra incorporar, então vai esse aí!)





That's how it starts
We go back to your house
We check the charts
And start to figure it out

And if it's crowded, all the better
Because we know we're gonna be up late
But if you're worried about the weather
Then you picked the wrong place to stay
That's how it starts

And so it starts
You switch the engine on
We set controls for the heart of the sun
one of the ways we show our age

And if the sun comes up, if the sun comes up, if the sun comes up
And I still don't wanna stagger home
Then it's the memory of our betters
That are keeping us on our feet

You spent the first five years trying to get with the plan
And the next five years trying to be with your friends again

You're talking 45 turns just as fast as you can
Teah, I know it gets tired, but it's better when we pretend

It comes apart
The way it does in bad films
Except in parts
When the moral kicks in

Though when we're running out of the drugs
And the conversation's winding away
I wouldn't trade one stupid decision
For another five years of life

You drop the first ten years just as fast as you can
And the next ten people who are trying to be polite
When you're blowing eighty-five days in the middle of France
Yeah, I know it gets tired only where are your friends tonight?

And to tell the truth
Oh, this could be the last time
So here we go
Like a sales force into the night

And if I made a fool, if I made a fool, if I made a fool
on the road, there's always this
And if I'm sewn into submission
I can still come home to this

And with a face like a dad and a laughable stand
You can sleep on the plane or review what you said
When you're drunk and the kids leave impossible tasks
You think over and over, "hey, I'm finally dead."

Oh, if the trip and the plan come apart in your hand
Tou look contorted on yourself your ridiculous prop
You forgot what you meant when you read what you said
And you always knew you were tired, but then
Where are your friends tonight?

Where are your friends tonight?
Where are your friends tonight?

If I could see all my friends tonight
If I could see all my friends tonight
If I could see all my friends tonight
If I could see all my friends tonight

sexta-feira, 23 de abril de 2010

mind the gap

pelo menos eu sei que agente é do FBI e entre nós existe um espaço.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

verso - inverso



Enquanto um é caótico, tumultuado e impulsivo, o outro quer racionalizar, categorizar, classificar (e mais aquelas outras tantas palavras que envolvem algum tipo de método e lógica). Um toma decisões para o outro desconfiar. Um toca guitarra, o outro piano clássico. Um dança tango, o outro sapateado. Um ganha vale refeição todo mês, paga o INSS e seguro do carro, o outro vive de bicos, instável, preocupado.
É uma batalha sem fim. Mas, às vezes, as cartas se embaralham e as regras mudam. Tudo que você conhecia se transforma num médio- grande "não sei". O caótico troca o rock 'n' roll pelo violino, e o organizado se perde numa bagunça gigantesca. Pronto, confusão armada. Aí só resta esperar pela ressaca...!

Greguerías

greguería. (De griego1). f. 1. Vocerío o gritería confusa de la gente. 2. Agudeza, imagen en prosa que presenta una visión personal, sorprendente y a veces humorística, de algún aspecto de la realidad, y que fue lanzada y así denominada hacia 1912 por el escritor Ramón Gómez de la Serna. Real Academia Española. Diccionario de la lengua española. 21ª ed.

Este é o nome que o escritor espanhol Ramón Gómez de la Serna, precursor do surrealismo e de Cortázar, dava aos seus aforismos e coisas e tal.

Uma entrada farta aqui e o prato principal neste link.

Tinha a voz tão triste que parecia saída do seu esqueleto.

O cérebro é um pacote de idéias enrugadas que trazemos na cabeça.

Bígamo: viga para sustentar duas mulheres.

A pérola é feita tão somente com as ilusões da ostra.

As escadas rolantes me inquietam, porque revelam como sempre somos conduzidos pela fatalidade, mesmo quando pensamos que estamos imóveis.

O espelho não só nos duplica; o espelho nos julga.

A sopa é o banho do apetite.

A meia lua põe a lua entre parênteses.

A idiossincrasia é uma enfermidade sem especialista.

genial, não?!

teses tarantinescas

a mente do Tarantino é uma das que eu adoro!
aí o Selton Mello e o Seu Jorge filmaram isso... muito bom!

quarta-feira, 21 de abril de 2010

uma história "breve"

A MENTIRA TEM PERNAS LINDAS


Caligrafia

Escreva em letra miúda a sua sensação de grandeza.

Num muro, bilhete, na testa, no verso da tristeza.

Mas escreva em letras miúdas para caber

entre os dentes da raiva, entre os tempos da pausa,

entre o peso e a alça, o desejo e a calça.

Nomeie seus instantes.

Para ler com clareza,

não é a letra que

precisa ser grande.


-te

Tomou em cápsulas para ter coragem,

tomou com água e quis tombar paredes e colunas.

Foi torta e tipicamente tensa na temperatura tonta daquele tempo, mas depois, tranquila,

teceu os fatos, tricotou as tensões e tirou

disso tecidos e tapetes perfeitos para voar.

Tocou o céu e todas as Terras sem tremer,

teimou com as nuvens e entrou pro time dos tristes nunca mais. Testou as últimas chances e tingiu suas

tentativas com cores que antes não tinha nos olhos.

Tinta fresca para novos dias, tempo tenro para tardes

e terraços, trajes tipo preguiça, teatro para todos os tatos, aplausos para todos os toques, temperos para os terços das coisas, tabuleiros para os gestos e detalhes.

E depois de tanto voo, tanto azul, tanto texto, tanta tarde tímida, o túmulo da vergonha transbordou terceiras

intenções e eu também tomei das pequenas cápsulas para tratar as tonturas de ver e nunca ter-te.


Overbodose

Overbodose é um verbo viciado na linguagem. Overbodose.

São doze bodes presos? São bodes expiatórios vagando com os meus segredos. O verbo é over, o verbo é óvulo, ovni, é ovo. O verbo é oco.

O indizível é o que mais odeio. Ele me abusa quando não há canetas, me ouve se leio pra dentro. O verbo é vértebra e músculo,

orgânico como a overdose. Obtuso como um devaneio, vai saber.

O verbo sabe ler? Ele é pobre, não escolhe. O verbo é pele. É bobo,

é bento. É a segunda ideia de Deus, é feito de carne, feito de eu.

O verbo não é vantagem, é direito. Em vinagre vigora meus defeitos,

conserva cabeceiras e olheiras quando me deito.

O verbo é a cama, é a grana, e nunca estamos satisfeitos.


O sal

Saiu pra comprar sal. Nem sempre a doce vida é a melhor vida. Doce enjoa. O sal dá sede. Sal deixa a gente vivo. Ele saiu pra comprar sal.
Deixou a casa acesa. A luz em cima da mesa.
A busca é sempre a mesma: levar o sal pra casa, tempero de uma risada, graça até pro copo d'água,
mas a sede é sempre vesga.
Ele cruzou esquinas, cruzou os dedos, mal sabia.
O sal era a ausência que
ele deixava quando saía, era o frio de estar sozinho, o sal era só até
a esquina, era ela sentir a falta um pouquinho. E ela sentiu.
Por isso temperou os planos pro futuro com têmporas tensas e empolgadas.
Visões um tanto salgadas, mão molhada, ela sob a luz daquela mesa.
Esfomeada. Esperou.
Mais um tanto de espera, mais um tanto de espera, mais um tanto de espera, mais um tanto de espera, ele não voltou. Pesou demais a mão no tempo e o tempero dessalgou.
Ela escreveu na geladeira "o sal acabou".
E saiu pra comprar um doce, mas a busca é sempre amor.

DE LUCIANA ELAIUY (publicado aqui)

terça-feira, 20 de abril de 2010

Tudo dito (e eu nem quero justificar nada!)

Tudo começou porque a gente gosta de escrever e escrevia e resolveu publicar. E isso tudo está parecendo um tanto esquizofrênico? Às vezes eu acho que sim, às vezes que não. Deve estar mais pra “surtos bipolares”, então. Mas é que o intuito era justamente esse. Um lugar para que se possa escrever qualquer coisa, mostrar qualquer coisa, colocar qualquer uma dessas tantas coisas que a gente gosta. E são muitas, acredite. No meu caso, é ainda um lugar pra fugir da ciência, do método, da lógica de sempre. Pelo menos eu acho que consigo fugir disso tudo. Serve para cuspir todas as frustrações e limitações dessa vida, mas também serve para dividir informações que eu acho relevante, pedaços de mundo que eu gosto, risos e qualquer outra coisa que talvez você veja e eu não. Dizem que blog é o novo divã. Será? Não sei se o efeito é o mesmo, mas é, definitivamente, mais barato.

Tudo isso é pra dizer que às vezes eu leio meus pensamentos, assim, como um texto pronto e eu não tenho outra opção a não ser escrevê-lo. Tudo isso pra dizer que muitas vezes eu sou obrigada a acender a luz do meu quarto e anotar esses surtos, mesmo que eu já estivesse quase dormindo. Tudo pra dizer que quando eu releio algo que eu tenha escrito, me dá vontade de rasgar, pra depois achar bom e, num terceiro momento, querer colocar fogo no papel. Pra dizer que eu acho certas frases geniais. Dizer que eu gosto é de brincar com as palavras, de mexer com elas, de fazê-las escapar. Tudo pra dizer que certas imagens valem mais que mil palavras, mas conseguir descrevê-las é poesia.

Tudo pra dizer tudo que eu já disse.

Diálogos. Monólogos.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

num banco



it just made me smile!
a foto é do nicolas

vulcânico

O vulcão Eyjafjallajokull, na Islândia, entrou em erupção, espalhou cinzas até o Reino Unido, impediu decolagens e pousos e foi o protagonista de cenas incríveis!






as fotos são daqui e daqui ...

beer flowcharts





pois beba!!

let's drink

underskin

mind the gap!!



from info. aesthetics

domingo, 18 de abril de 2010

Bajofondo Tango Club

e dá mesmo uma vontade de sair dançando!!
mar dulce!



la milonga!



placebo

e qual o seu placebo?
engolir trabalho?
fumar um?
engolir miolo de pão?
dormir?
engolir cerveja?
tudo junto, misturado?
o brilho fosco. o comprimido errado.

pela metade ?

várias coisas que me irritam. irritam e ponto. eu me irrito, você não?
existem muitas, muitas mesmo. falta de respeito. falta de consideração. falta de educação. gente folgada. gente arrogante. gente pedante. outras gentes.
também me irrita gente que finge que nada está acontecendo quando está. me irrita gente que finge que a vida não está acontecendo quando está. me irrita (e talvez aqui a palavra seja outra) gente que não dá o cara a tapa; gente que prefere aquele dia-a-dia conhecido e sem graça porque tem medo de se foder no desconhecido, no era uma vez, naquilo.
mil palavras ou nenhuma delas pode mudar tudo. pode tornar necessário tudo aquilo que você julgava inútil, pode duvidar das respostas e responder as dúvidas, pode tudo que você quiser.
O dito pelo não dito fica no ar na maioria das vezes. Pois diga de uma vez soltando todo o ar do pulmão, reciclando os gases antes da intoxicação. a fumaça escurece o talvez, o não sei, o quem sabe. se o antídoto vive cheio de interrogações, a certeza é um veneno.

sábado, 17 de abril de 2010

Story of Stuff

outro vídeo que precisa ser visto.
taí...!


Ilha das Flores

Pra quem nunca viu, taí.
Pra quem já viu, taí.
Pra qualquer um, taí.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

em pé

É que daí eu fiquei pensando: que bom que hoje tem a internet. viva viva viva. Pelo menos por aqui e por enquanto não tem censura.
...meu IP pode navegar à vontade e eu acho que sou meu próprio filtro.
mas sempre tem um mas. tem a google, a besta faminta.

Levante sua voz

no estilo do "Ilha das Flores", esse curta fala do direito à comunicação. é excelente... tanto as imagens quanto o conteúdo! obrigatório.

Intervozes - Levante sua voz from Pedro Ekman on Vimeo.

A bolha



there's denial, but it's addictive

quarta-feira, 14 de abril de 2010

us

my girls




my boys

vôo

terça-feira, 13 de abril de 2010

Post Blue



It’s in the water baby,
it’s in the pills that bring you down
It’s in the water baby
it’s in your bag of golden brown
It’s in the water baby
it’s in your frequency
It’s in the water baby
it’s between you and me

It’s in the water baby
it’s in the pills that pick you up
It’s in the water baby
it’s in the special way we fuck
It’s in the water baby
it’s in your family tree
It’s in the water baby
it’s between you and me

Bite the hand that feeds
Tap the vein that bleeds
Down on my bended knees
I break the back of love for you
I break the back of love for you
I break the back of love for you

It's between you and me

******
adoro. adoro. adoro. it's in the special way we fuck.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

lindésimo de segundo

... e tudo acaba.
acaba?

inutensílios úteis

Glossário de transnominações em que não se explicam algumas delas (nenhumas) ou menos

Poesia, s.f.
Produto de uma pessoa inclinada a antro
Espécie de réstia espantada que sai pelas frinchas de um homem
Designa também a armação de objetos lúdicos com emprego de palavras imagens cores sons etc. geralmente feitos por crianças pessoas esquisitas loucos e bêbados

Poeta, s.m. e f.
Indivíduo que enxerga semente germinar e engole céu
Espécie de um vazadouro para contradições
Sujeito inviável: aberto aos desentendimentos como um rosto

Trapo, s.m.
Pessoa tendo passado muito trabalho e fome deambula com olhar de água suja no meio das ruínas
Diz-se também de quando um homem caminha para nada

Pedra, s.f.
Indivíduo que tem nas ruínas prosperantes de sua boca avidez de raiz
Lugar de uma pessoa haver musgo
Palavra que certos poetas empregam para dar concretude à solidão

Apêndice:
Olho é uma coisa que participa o silêncio dos outros
Coisa é uma pessoa que termina como sílaba
O chão é ensino.

Manoel de Barros
em ARRANJOS PARA ASSOBIO

cravo e canela



impressionante o que ela faz com esse violão!

Charlotte Gainsbourg and Beck



She’s sliding, she’s sliding
down to the depth of the world
She’s fighting, she’s fighting
the urge to make sand out of pearls

Heaven can wait
and hell’s too far to go
Somewhere between
what you need and what you know
And they’re trying to drive that escalator into the ground

She’s hiding, she’s hiding
on a battleship of baggage and bones
There’s thunder, there’s lightning
and an avalanche of faces you know

Heaven can wait
and hell’s too far to go
Somewhere between
what you need and what you know
And they’re trying to drive that escalator into the ground

...

cansaço de escada rolante, má??!

Macy Gray

Ela volta com um novo disco Sellout... e esta música é o primeiro single!




we need more lovin'
we need more money
they say...
change is gonna come
like the weather
they say forever
they say

So baby in between
notice the blue skies
notice the butterflies
notice me
stop and smell the flowers
and lose it
in sweet music
and dance

....

domingo, 11 de abril de 2010

mais amor, por favor

o cara é artista, designer e grafiteiro. Além de várias obras legais, registradas no flickr dele, ele saiu grafitando uma certa frase pela cidade: mais amor, por favor.
tão simples e tão necessário.








uma gentileza!

sexta-feira, 9 de abril de 2010

no sapato

-opa

- tropeçou?

- ahn?

- tropeçou no p....

- ahn?

- no p, sim. você queria um OBA!!


**********

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Drummond

quinta-feira, 8 de abril de 2010

mais um dragão

E acharam um dragão (zinho) durante um estudo na Indonésia. Quem sabe parente do Draco volans.



Agora quero saber: cospem fogo? sequestram princesas? lutam contra heróis? defendem torres?
!!!!!
mas que é bonitinho, é!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

todo dia ainda

falando naquilo ainda temos isso:



celebrate we will
because life is short but sweet for certain
we're climbing two by two
to be sure these days continue
these things we cannot change

todo dia

É que no meio dessa nossa vidinha tão cheia de compromissos e afazeres e prazos e responsabilidades fica difícil ver aquelas coisinhas, inhas mesmo. Dia-a-dia e a gente nem olha pro lado, sempre olhando pro chão. Enterrando a cabeça em listas, tarefas, preocupações. pensando no que você esqueceu de fazer, no melhor horário de ir ao banco pagar aquela conta, etc. etc.
já que todo dia ela faz tudo sempre igual, hoje podia ser diferente. todo dia poderia...
e é por isso que hoje (quiçá sempre) eu quero que uma coisinha pequenininha me surpreenda. pode ser? não é pedir muito, é?


aproveita que hoje tá frio e sinta o ar gelado.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Holi - o festival das cores

Holi é uma festa celebrada na Índia pelas populações hindus para comemorar a primavera, onde as pessoas jogam tinta, pós coloridos e água uns nos outros. É, com certeza, a festa mais legal do Oriente!!
Peguei algumas fotos do Big Picture, o resto, todas ótimas, dá pra ver lá no site deles.









incrível! espetáculo! fantástico!

(des)alinhado

E ele faz tudo errado sem nem saber que está errando. Retruca a frase errada, implica com o comentário inofensivo do alto de sua segurança limpa e branca. Age indiferente àquilo tudo que faz a maior diferença no mundo, no meu mundo. E o meu mundo vai girando sem saber que ele quer mais é que todos eles estejam errados. Gira pro lado contrário, contra a correnteza, com muita força e muita teimosia. Um eixo torto, talvez. O quase reto sempre foi mais interessante que linhas certas e certeiras. Eu sempre soube disso, pena que ele ainda acha que não. O eixo dele desacelerou, mudou e se perdeu mais ainda. Uma outra gravidade o atormenta e ele se defende contra o desnecessário. Não precisa, basta estar. Basta enxergar. Basta andar certo por linhas tortas.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

modern guilt

Copo meio cheio, meio vazio? Nunca é. Nada será como vc imaginou, nada será ideal, nada é perfeito. As coisas são e ponto e pronto. Viver. Só isso que precisamos fazer. E da melhor maneira possível, do jeito de cada um. Tentar fazer isso sem culpa, sem cobrança. Esse é o problema. O maior deles. Expectativas dos outros que viraram nossas. Viraram minhas na hora que eu aprendi a fazer xixi na privada e abdiquei da fralda. Depois disso foi só no imperativo. Meu e deles. Faça. Seja. Queira. Sei. Fácil, né?!

De algum jeito é. Alguém sempre vai te dar alguma coisa que você quer ou precisa, na hora certa e na hora errada. Importa e não importa, mas faz tudo valer a pena. As coisas simples. A euforia de momentos bobos. A beleza trivial dos atos e dos fatos. Só lembre-se de encher o copo meio vazio com sabores diferentes e tomar sem medo. Pode vir um gosto amargo ou azedo, mas será diferente. No fundo, é só isso que interessa.
Sem otimismo, sem pessimismo. Afinal, o otimismo de um pode levar a cegueira, ou te manter numa ingenuidade perigosa, mas também leva à esperança e à confiança. E o pessimismo, e a crítica? Morreria sem ou com ela? Ela que me deixa desconfiada, incrédula, cética. Ela que resiste a tudo e a todos, mas que eu não sei deixar de ouvir. Deveríamos conseguir manter a ingenuidade parcial das crianças e a desconfiança dos adultos. Sem se jogar de mais, mas, principalmente, sem se jogar de menos. Senão tudo perde a graça. Tudo.

Mas quem consegue? Não conheço, acho. Talvez os inconsequentes; talvez as macabéias. Tudo para não ir levando aquela vidinha besta de todo dia. Acontece que a sua mesmice não é igual a minha e a minha mesmice impressiona muita gente. E agora? Não sei parar e devoro tudo. O que eu não consigo é justamente relaxar e falar foda-se. Me assusta pensar que cada vez mais eu diminuo o círculo de pessoas com quem eu consigo conversar e, portanto, conviver. Fadada à solidão? À pessoa arrogante e chata que está sempre querendo ir embora? Sempre se irritando? Não sei, não sei, mas é assustador.

E nessa hora, quero ir embora porque o pensamento nunca está ali na sala, no meio da conversa. Ele está sempre no que foi ou no que será, naquilo que interessa, naquilo que deveria estar acontecendo e, normalmente, não está. Se houvesse culpados, quem seriam? A família que te criou, a escola que te educou, as escolhas que fez, as pessoas que não fizeram igual? O breve momento de identificação releva os anos de diferença?

Não sei, não tenho respostas. São temas recentes e antigos, são meus e não seus, mas continuam sendo assustadores. Tenho medo. Medo. Essa é a palavra da minha geração. E tudo isso por tudo aquilo.

em construção

two way street

He said he wanted to go but didn't. She said she wanted to stay but went. He never saw her anymore. She never saw him anymore. He always appeared when she disappeared, at those places where possibilities vanished. They grew apart. Keeping a safe distance when driving.
She wanted collision and nothing could change that. He dreaded surprises and did nothing to change that. Coincidences led the way and all she wanted to say was: I lost the u-turn, babe!

all you need is love

domingo, 4 de abril de 2010

momentum

Permanecer, o mais insustentável dos verbos. E eu, dopada, achando que consigo. Mantenho o metabolismo basal. Aos poucos ele me mostra como é fácil. Só respirar, comer, dormir e, quando necessário, colocar para fora um pouco da alegria, da raiva, da tristeza. Ser simples. Viver simplesmente. Se manter no aqui, no agora. sem querer fugir daquilo que desconhecemos. sem querer ficar, porque ficar implica em não sustentar nem o mais trivial entre nós. sem fazer força para nada, pois sei que o nada não existe ali. ali tem peso, sempre teve, sempre terá.
No dia seguinte começa tudo de novo. respiro. como. durmo. e extravaso o sentimento do agora. e assim vou. vamos. vais.

distraídos venceremos

Tudo o que eu faço
alguém em mim que eu desprezo
sempre acha o máximo.

Mal rabisco,
não dá mais para mudar nada.
Já é um clássico.
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não fosse isso
e era menos
não fosse tanto
e era quase
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como se quase, existindo,
só nos faltasse o talvez.
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Paulo Leminski

petisca

"...Se iludindo menos e vivendo mais!!! A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade..."
Drummond

tem tanto tempero no mundo e você comendo a mesma comidinha de sempre.