sábado, 21 de março de 2009

Aperta o cinto

Eu nunca gostei de montanha-russa, dessas com looping então, afe. Logo eu que nunca gostei. De repente me vi sentada no primeiro vagão do carrinho com ele já em movimento e eu de passageira: sem freio, sem controle da direção, num vaivém emocionante. Sobe. Desce. Vira. Vai. Sobe. Desce. Acabou a primeira volta e antes de qualquer coisa o corpo já tremia pedindo mais. Segunda volta e o carrinho parou. Eu respirei fundo e fiquei lá zonza e imóvel. Enquanto eu mastigava todos aqueles pedacinhos e iniciava a minha digestão o carrinho se pôs a andar de novo. No começo ele é devagar e rápido, suave. Dá até para soltar a mão. O vento bate e é gostoso. Mas logo começa a subida e as palpitações. Medo. Os olhos já estão fechados. A mão segura aquela barra com força. Aperta. Muita força. Não quero subir mais. Não quero mais alto. Medo. Ei, já pode parar de subir viu. Pára de subir. Pára. E agora? Despenca. Vira de ponta cabeça. Direita, esquerda, sobe, cai. O carrinho parou de novo e eu saí depressa. Tonta, enjoada, mas certa de uma coisa. Nunca mais. Não vou ligar nunca mais.

sábado, 14 de março de 2009

Tô indo

Queria poder te contar tudo, tudinho, do jeito que aparece na minha cabeça. Colocar tudo pra fora, agora, mesmo que do avesso. Sem excluir nada, nem comer frases por falta de velocidade na boca ou, nesse caso, na mão. E olha que eu digito rápido, mas é que para gerar um pensamento levo milimicrosegundos, e até fazer com o que a mão obedeça, já gerei outro que quer levar vantagem sobre o primeiro. Se ele é teimoso, fica martelando os neurônios, batendo o pé: não saio, não saio. Se os estímulos do mundo me viessem um de cada vez, talvez, mas só talvez, isso ficaria mais fácil. Mas estes (ahhh!), eles cismam em querer atravessar o meu corpo por todos os cantos. Ouço, vejo, cheiro. Sinto. Pára. Não, não paro. Sinto. Sinto. Sinto muito, mas não vai dar. Vou continuar me atropelando e atropelando os outros. Na minha cabeça, na minha maluquice. Vou continuar correndo e voltando, fugindo e me afogando, me escondendo e deixando escapar.

terça-feira, 10 de março de 2009

sleep tight

The creative genius might as well be some goblin-like creature. If it is, I'm sure mine lives underneath my bed, blurting out thoughts into my mind. I'm also sure it has its peek of insights right around the time I lay in bed to sleep. But I'm always too tired, too lazy and, dare I say, too stunned to turn on the lights, pick up my pen and paper (which, by the way, are already next to my pillow) and write. Since I don't trust my memory, couldn't I just record it instead?

Maybe I should tell him to visit me some other time. Come back later; bring it on during the day. Whisper all you want then, no harm done. But no, he figures now is better! Now that I've got some hours of sleep planned, which are, in fact, decreasing by the minute. I can't afford to lay awake all night. I would if I could, but I just can't. Nah, what's the point? He definitely would be too stubborn to listen. I guess he finds it all very amusing!

Fortunately, I never do find the cojones to say "shut up"!
Lights are on, hands gripping a pen...

quinta-feira, 5 de março de 2009

E se...

Se eu fosse escrever um livro hoje, meu personagem seria parecido, digo teria o mesmo tipo de raciocínio, que o personagem do Sabato no túnel.
O túnel foi o primeiro livro que ele escreveu depois de ter largado a ciência, com toda sua razão, lógica e método, por uma vida com um pouco menos disso tudo. Mais espontânea, talvez, onde dar ouvidos à intuição e ao instante-já fosse mais natural e freqüente, sem a necessidade de cálculos e especulações prévios sobre todas as possibilidades (e a combinação delas!)...

Questionando tudo, sempre. É algo assim: joão não ligou. Por quê? Ah, ele ainda não chegou; ou ele está cansado, de bode; ou ele esqueceu. tudo bem (e você volta a escrever, ler, ver TV ou qualquer outra coisa).
... ou ele esqueceu.
tá bom, eu vou ligar. ele não atendeu. Por quê? vai ver não ouviu; vai ver não quis. (e você retoma a sua atividade). o telefone não toca. ... porque ele não atendeu? não ligou de volta? porque não quis atender?
... e, de repente, você chega à conclusões mágicas que envolvem sentimentos contraditórios e negativos. No livro, o personagem do Sabato se joga nessa espiral e acaba cometendo assassinato (não, não contei o final, sempre soubemos disso. tá lá, no primeiro parágrafo).

A gente sofre por pensar demais. eu sofro. é cruel e não é justo. Pior, você analisa todas as possibilidades dentro de todas as circunstâncias sem nunca saber, sem ter certeza (quem tem?). E é assim com tudo na vida. e se eu não tivesse ficado doente, e se eu tivesse ido viajar naquela semana, e se eu...
Seria tão bom ter um eu-controle. mexer nas variáveis (escolhas) do eu e deixar o controle intacto. só pra ver o que aconteceria se...

e a gente aprende a parar de conjugar verbos assim, no mais-que-perfeito-imperfeito? será?

não existe certo e errado, só o nosso jeito! la dolce vita!


qualquer semelhança com a coincidência é mera realidade!!

neblina

tão diferente e tão igual
longe de casa e acolhida
exagerada e comedida

quarta-feira, 4 de março de 2009

manoelês

"O sentido normal das palavras não faz bem ao poema.
Há que se dar um gosto incasto aos termos.
Haver com eles um relacionamento voluptuoso.
Talvez corrompê-los até a quimera.
Escurecer as relações entre os termos em vez de aclará-los.
Não existir mais rei nem regências.
Uma certa luxúria com a liberdade convém."

Manoel de Barros. Um dos meus poetas favoritos. Não sei defini-lo, nem quero. Não sei descrevê-lo, nem devo. O manoelês é diferente, ponto. é o brincar dele com as palavras que o torna tão, tão...
Não precisa entender... "entender é parede, procure ser uma árvore."


assim sendo: just go on flirting with words!

oxigênio

num fôlego só eu vou dizer que tudo aquilo foi impulsivo explosivo e inevitável que fiquei sem prumo e até perdi o diafragma pro soluço, mas agora saí do sufoco. e no ritmo. vai, vem. vai, vem. vai, vem. ó, o rumo ali...

ignition

I'm going to tell you a story, a tale really, that started off as... more dots... and some more...
ooops. nothing. empty. void. blank.