Alguém, eu não lembro quando, mas há mais tempo do que minha memória pode alcançar, me mandou correr, e não parar nunca. Eu comecei, e a princípio achei cansativo, mas eu tinha que correr. Depois de algum tempo, não achava mais que estava em movimento, pois a corrida tinha se incorporado a mim, eu corria sempre e só era eu porque corria. Chegava a imaginar se algumas pessoas andavam, e uma vez atingi o absurdo de considerar a possibilidade de algumas pessoas, de vez em quando, pararem. Mas logo vi que era inconcebível. Correr era meu estado natural e meu objetivo de vida. Mas porque corria? Pra onde ia? Ninguém nunca havia me falado. E por que continuava correndo então? A monotonia e segurança de correr me impediam de parar e analisar o que acontecia? As endorfinas adquiriram vida própria e não queriam abdicar de sua posição? Acho que não. Eu não havia perguntado pq corria. Não tinha mais ninguém ao meu redor, nem nada onde segurar. Não tinha como saber por que. Nem como parar! Estava presa na inércia do movimento, onde o impossível era mudar.
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