domingo, 12 de abril de 2009

O homem de meias

Depois de dois dias eles já se deram o direito de dar às mãos ansiosas acesso a locais proibidos. Essas correram que nem loucas pegando tudo. Todas as elevações. Mas queriam mais, como tudo quer. Queriam sentir a pele e as cavidades, queriam sentir tudo por dentro.

Primeiro eles se livraram dos sapatos, e dos cachecóis, e das luvas e das pesadas jaquetas de frio. Depois das blusas e dos cintos e das calças e da calcinha de renda e do sutiã de enchimento e da cueca de outdoor. Jogavam tudo o mais longe possível para não cederem ao impulso de colocar tudo novamente. Estavam nus. Ou quase isso. Ambos tiveram que parar. Ela quando ele tentou lhe tirar os brincos, ele quando ela atentou lhe puxar as meias.

-Mas, porque você não tira os brincos? Me sinto nua….
- E porque você não tira as meias? Eu sinto frio….

Ambos aceitaram as suas limitações e se deixaram levar e entrar onde queriam. Ele de meia, ela de brincos. Mas no meio do início de um papai e mamãe enlouquecido ela se deu ao luxo de pensar, enquanto ele metia. Ela, pela primeira vez, tentou entender sua própria timidez. Resolveu dar uma chance ao desconhecido e ficar completamente nua. Mas assim que acabou de tirar os brincos, ainda envergonhada, ela fez uma breve pausa e foi aí, nesse silêncio solitário, que ele gozou. Ali, em cima dela. E ela ficou lá, inerte, olhando para o teto, esperando um espasmo que não vinha, nua e sem brincos....enquanto ele, de pés aquecidos, roncava seu gozo vazio. Não há mesmo muito o que entender sobre o frio.

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