quinta-feira, 16 de abril de 2009

segunda inconveniência

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Laura era um camaleão perdido, sempre a procura de matizes nos olhos de homens míopes, que tropeçavam com cuidado em sua carne fraca, como se tudo fosse um acidente infeliz. Para Laura essa foi uma noite habitual de palpitações descabidas e ansiosas. Mas era o momento do cortejo em grupo, era a noite para os meninos exibirem seus violões, dos homens com suas caudas de pavões. Laura permaneceu em guarda do seu violão, dos seus sonhos, de seu homem sem calcanhares, de seu menino de imperfeições planejadas. Enquanto ele tocava, ela o fazia. Desenhava todos os contornos, sempre fora das linhas. Enquanto ele bebia, ela gemia gemidos imaginários, planejava discussões oníricas e amores irreais. E quanto mais bela a melodia ficava, mais Laura criava dramáticas tramas de traições e reconciliações e sentimentos profundos e destrutivos. Era assim que sempre achou os amores verdadeiros. Laura amou, sofreu, reconciliou, perdeu, se recuperou, enquanto Zé tocou três Chicos. Laura padeceu dores curtas e logo se perdeu novamente na floresta de homens, à espera de um novo padrão de cores para sua pele camuflada. Laura andava sempre em carne viva.

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