Num mundo perfeito a gente não entraria em crise com o nosso trabalho. A decisão, uma vez tomada, não seria questionada, não te deixaria olhando pro teto de madrugada, não faria sua mandíbula acordar mastigada de manhã e não tiraria seu ânimo pra começar mais um dia. Num mundo perfeito você acorda empolgado e vai, não vê o tempo passar e fica.
No meu mundo imperfeito as crises existem e nessa hora eu não gosto de trabalhar. Não gooosto. Nesse meu mundo, as únicas formigas operárias são as saúvas que não me deixam quieta (em inglês: fire ants; em português: fogo no rabo; pra mim: fire ants behind).
Que culpa eu tenho? Quero tudo ao mesmo tempo ao mesmo tempo ao mesmo tempo em que talvez eu não queira nada. É tanto que a perna cansa. Vale dizer que o trabalho é intelectual e exige uma concentração daquelas, que, por sua vez, vai depender de um estado de espírito em crise, sem jamais esquecer que tenho um cérebro a mil, movido à cafeína, invariavelmente curioso e interessado. E foi assim, no meio da centésima crise, que eu me formei doutora em procrastinação. Tudo isso antes mesmo de acabar o mestrado. Genial, não? Vou descrever a especialidade, o capítulo um da tese...
Preciso construir uma função. Não, não é y=ax+b. Resumindo rapidinho é isso: usando uma linguagem de programação (juro!), tenho que informar ao programinha maldito o que ele tem que fazer. Escrevo um código concatenando várias informações para que ele, de uma vez só, me dê certos resultados. Lindo? Não! Inventei que iria fazer uma função que calcule a elasticidade dos elementos de uma matriz (matemática, hã). Para tanto, eu preciso dos autovalores e autovetores dela. Tá bom.
Caceta, onde eu fui me meter, que idéia de jerico. Autovalor e autovetor ou lavar a louça? Foco, garota, foco. Aquela louça nem está tão acumulada assim. Mexo no programa, descubro umas fórmulas, escrevo uns códigos que voltam sempre com uma mensagem de erro. Ironicamente o programa chama "R". Te obedeço, amigo, e erro.
Aí lembro que semana passada eu queria usar aquela blusa verde e não achei. Acho que preciso arrumar meu armário. E lá fui...pronto. 14h43 – um café e um cigarro e vou trabalhar. Sabe, hora redonda é sempre melhor pra começar, apesar de ser igual começar regime segunda-feira.
Crio minha matriz, ufa! É uma matriz 4x4 (vocês se lembram disso, né? número de linhas x número de colunas). Ótimo, autovalores resolvidos. Agora os autovetores. Problema!! Existe dois: o da esquerda e o da direita, e a minha matriz não é simétrica. Isso significa que eu tenho que fazer alguma coisa para achar o autovetor esquerdo. Procuro, abro livros, leio e nada.
No meu mundo imperfeito as crises existem e nessa hora eu não gosto de trabalhar. Não gooosto. Nesse meu mundo, as únicas formigas operárias são as saúvas que não me deixam quieta (em inglês: fire ants; em português: fogo no rabo; pra mim: fire ants behind).
Que culpa eu tenho? Quero tudo ao mesmo tempo ao mesmo tempo ao mesmo tempo em que talvez eu não queira nada. É tanto que a perna cansa. Vale dizer que o trabalho é intelectual e exige uma concentração daquelas, que, por sua vez, vai depender de um estado de espírito em crise, sem jamais esquecer que tenho um cérebro a mil, movido à cafeína, invariavelmente curioso e interessado. E foi assim, no meio da centésima crise, que eu me formei doutora em procrastinação. Tudo isso antes mesmo de acabar o mestrado. Genial, não? Vou descrever a especialidade, o capítulo um da tese...
Preciso construir uma função. Não, não é y=ax+b. Resumindo rapidinho é isso: usando uma linguagem de programação (juro!), tenho que informar ao programinha maldito o que ele tem que fazer. Escrevo um código concatenando várias informações para que ele, de uma vez só, me dê certos resultados. Lindo? Não! Inventei que iria fazer uma função que calcule a elasticidade dos elementos de uma matriz (matemática, hã). Para tanto, eu preciso dos autovalores e autovetores dela. Tá bom.
Caceta, onde eu fui me meter, que idéia de jerico. Autovalor e autovetor ou lavar a louça? Foco, garota, foco. Aquela louça nem está tão acumulada assim. Mexo no programa, descubro umas fórmulas, escrevo uns códigos que voltam sempre com uma mensagem de erro. Ironicamente o programa chama "R". Te obedeço, amigo, e erro.
Aí lembro que semana passada eu queria usar aquela blusa verde e não achei. Acho que preciso arrumar meu armário. E lá fui...pronto. 14h43 – um café e um cigarro e vou trabalhar. Sabe, hora redonda é sempre melhor pra começar, apesar de ser igual começar regime segunda-feira.
Crio minha matriz, ufa! É uma matriz 4x4 (vocês se lembram disso, né? número de linhas x número de colunas). Ótimo, autovalores resolvidos. Agora os autovetores. Problema!! Existe dois: o da esquerda e o da direita, e a minha matriz não é simétrica. Isso significa que eu tenho que fazer alguma coisa para achar o autovetor esquerdo. Procuro, abro livros, leio e nada.
Hmmmm! Vejo o livro do lado da minha cama e lembro do personagem, imagino a solidão do rapaz, que acabou de chegar em Londres vindo da África do Sul. Aposto que ele gostaria de uma companhia. Ele é muito mais legal por não querer determinar nada. Fico com ele uma hora.
Recebo um email. É de uma amiga que sabe do meu sofrimento e, muito gentilmente, me escreveu três palavras: Foco, mulé, foco. Respondo dizendo que o problema são as lentes multifocais que uso.
Óquei, e a matriz? Ta lá, feia que dói. Dizem que feiúra tem a ver com simetria e, sendo a bendita assimétrica, eu não consigo descobrir seu valor reprodutivo. É, gente, acreditem, o autovetor esquerdo dessa matriz representa seu valor reprodutivo. O dela deve ser baixíssimo, vai.
Vai, cérebro, concentra. Sabe o que iria me ajudar? Óculos. Você podia fazer outro, não acha? Já vai fazer um ano que você perdeu o antigo. Eu sei que o grau é baixinho, mas faz um ano que me esforço apertando seus olhos. Agora cansei e, por isso, eu tô aqui sofrendo, latejando pra chamar sua atenção.
Negocio umas pílulas e ganho uma hora de concentração. Mas continuo errando e me irrito porque o erre não me entende. Mas sabe quem me entende? O House, o médico ácido mais charmoso da TV. Começa em quinze minutos. Deixa só eu terminar de escrever isso aqui e voilá.
Viu só, PhD. Não falei? E, uau, eu fiz taaanta coisa!!
Recebo um email. É de uma amiga que sabe do meu sofrimento e, muito gentilmente, me escreveu três palavras: Foco, mulé, foco. Respondo dizendo que o problema são as lentes multifocais que uso.
Óquei, e a matriz? Ta lá, feia que dói. Dizem que feiúra tem a ver com simetria e, sendo a bendita assimétrica, eu não consigo descobrir seu valor reprodutivo. É, gente, acreditem, o autovetor esquerdo dessa matriz representa seu valor reprodutivo. O dela deve ser baixíssimo, vai.
Vai, cérebro, concentra. Sabe o que iria me ajudar? Óculos. Você podia fazer outro, não acha? Já vai fazer um ano que você perdeu o antigo. Eu sei que o grau é baixinho, mas faz um ano que me esforço apertando seus olhos. Agora cansei e, por isso, eu tô aqui sofrendo, latejando pra chamar sua atenção.
Negocio umas pílulas e ganho uma hora de concentração. Mas continuo errando e me irrito porque o erre não me entende. Mas sabe quem me entende? O House, o médico ácido mais charmoso da TV. Começa em quinze minutos. Deixa só eu terminar de escrever isso aqui e voilá.
Viu só, PhD. Não falei? E, uau, eu fiz taaanta coisa!!
Hahahahahahahhahahahaha!
ResponderExcluirPhD com mérito!!! hahahahaha
ResponderExcluirhahaha!
ResponderExcluiré, muito mérito! ;)